O movimento abolicionista Nas últimas décadas do século XIX, a maioria da sociedade brasileira era antiescravista. A Guerra de Secessão, nos Estados Unidos, da qual resultara a abolição da escravidão naquele país, tivera forte impacto nas nações que ainda mantinham a escravatura, como Cuba, Porto Rico e Brasil, e estimulou as campanhas abolicionistas. No Brasil, foram fundados clubes e associações abolicionistas formados pelos mais diversos setores da sociedade. Eram promovidas festas beneficentes, quermesses, palestras e comícios em praça pública, fosse para angariar fundos para a causa abolicionista, fosse para condenar a escravidão. A imprensa era um dos principais veículos de defesa do abolicionismo. No parlamento, a questão escravista era mais delicada. Como a maioria dos deputados era proprietária de terras e escravos, defendia a emancipação lenta e gradual dos cativos, com o pagamento, pelo governo, de indenização aos seus senhores. A Lei do Ventre Livre Em setembro de 1871, os deputados aprovaram numa perspectiva de emancipação gradual dos cativos, a Lei do Ventre Livre, que declarava libertos os filhos de mulher escrava que nascessem no país a partir da promulgação da lei. Os filhos ficariam sob a guarda do senhor até a idade de 8 anos. A partir de então, o senhor poderia liberta-los, em troca de títulos públicos, ou se utilizar gratuitamente de seus serviços até completarem 21 anos. Na realidade, a Lei do Ventre Livre pretendia esvaziar o movimento abolicionista e, ao mesmo tempo, garantir aos proprietários de terras uma transição segura para o trabalho assalariado. A Lei do Ventre Livre teve pouca eficácia. Para se ter uma ideia, o número de crianças libertadas em 1879 e 1880, quando teriam alcançado os 8 anos, era insignificante. Até o final de 1880, apenas 4 500 escravos haviam sido libertados pelo Fundo de Emancipação, isto é, apenas 0,3% da população escrava do país naquele ano. Esses resultados insignificantes da Lei do Ventre Livre acabaram por agitar a campanha abolicionista. As ações dos grupos abolicionistas eram bastante diversas, sendo a campanha da libertação voluntária, isto é, as alforrias concedidas pelos senhores, a mais importante na primeira metade da década de 1880. Essas alforrias superaram significativamente as promovidas pelo Estado, o que demonstrava o avanço da sociedade civil frente às autoridades públicas. Diversos municípios espalhados pelo Norte, Nordeste e Sul do Brasil, seguindo o exemplo do Ceará, libertaram seus escravos e declararam-se territórios livres. A pequena população do Amazonas também foi libertada em 1884. Em 1885, mais de 85% dos escravos do Rio Grande do Sul haviam sido libertados. À essa altura, a escravidão encontrava-se reduzida às províncias do Centro-Sul. Grupos abolicionistas radicais, como os Caifazes, organizavam fugas e rebeliões dos escravos nas fazendas. Em contrapartida, os proprietários formavam os Clubes da Lavoura e Comércio, que contavam com milícias próprias para reprimir a fuga e revolta dos cativos e a ação dos abolicionistas. Sequer o Exercito se dispunha mais a reprimir os defensores da abolição. A Lei dos Sexagenários e a Lei Áurea Em 1885, mais uma vez, o governo tentou conter os ânimos abolicionistas com a promulgação da Lei Saraiva-Cotegipe, mais conhecida como Lei dos Sexagenários, por libertar os escravos que tivessem mais de 60 anos. Essa lei, na verdade, só beneficiava os próprios senhores, uma vez que ficavam livres dos escravos improdutivos e dispendiosos. A lei ainda previa que os escravos libertos deviam trabalhar de graça até os 65 anos, e estabelecia o pagamento de indenização aos seus senhores. A Lei dos Sexagenários acirrou ainda mais os ânimos abolicionistas. O movimento tornou-se cada vez mais radical, o que levou a princesa Isabel, que ocupava interinamente o trono, a assinar, em 1888, a Lei Áurea, abolindo definitivamente a escravidão no Brasil.
(Fonte: Mestres da História)
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