quarta-feira, 12 de outubro de 2011

TOLERÂNCIA

TOLERÂNCIA

A tolerância sendo uma virtude é, portanto, um valor. Valores, como é sabido, não podem ser definidos, entretanto, podem ser descritos e analisados de acordo com comportamento dos integrantes de uma sociedade.

A idéia de tolerância somente pode ser analisada, com certa precisão, se estiver interada socialmente, pois está indissoluvelmente atrelada ao agir das pessoas nesta mesma sociedade.

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Para abordar esse tema tão subjetivo por se tratar de uma virtude e também, sendo um dos valores da nossa Ordem, deixo duas perguntas para a nossa reflexão: "Julgar que há coisas intoleráveis é dar provas de intolerância?" Ou, de outra forma: "Ser tolerante é tolerar tudo?" Em ambos os casos a resposta, evidentemente é não, pelo menos se queremos que a tolerância seja uma virtude.
Partindo da afirmação que Filosofar é pensar sem provas, somente espero não ter indo longe demais nas minhas divagações filosóficas.
No opúsculo O que é Maçonaria, temos a seguinte frase: “A Maçonaria é eminentemente tolerante e exige dos seus membros a mais ampla tolerância. Respeita as opiniões políticas e crenças religiosas de todos os homens, reconhecendo que todas as religiões e ideais políticos são igualmente respeitáveis e rechaça toda pretensão de outorgar situações de privilégio a qualquer uma delas em particular”.
A definição acima aborda a tolerância maçônica no seu aspecto religioso e político que, sendo um valor é muito mais abrangente, discutível e contestável do que os apresentados.
Quem tolera a violação, a tortura, o assassinato deveria ser considerado virtuoso? Quem admite o ilícito com tolerância tem um comportamento louvável? Mas se a resposta não pode ser negativa, a argumentação não deixa de levantar um certo número de problemas, que são definições e limitações. Nem tão pouco podemos deixar de considerar às questões sobre o sentido da vida, a existência do GADUe o valor dos nossos valores.
Tolerar é aceitar aquilo que se poderia condenar, é deixar fazer o que se poderia impedir ou combater? É, portanto, renunciar a uma parte do nosso poder, desejo e força! Mas só há virtude na medida em que a chamamos para nós e que ultrapassamos os nossos interesses e a nossa impaciência. A tolerância vale apenas contra si e a favor de outrem. Não existe tolerância quando nada temos a perder e menos ainda quando temos tudo a ganhar, suportando e nada fazendo. Tolerar o sofrimento dos outros, a injustiça de que não somos vítimas, o horror que nos poupa não é tolerância, mas sim egoísmo e indiferença. Tolerar Hitler é tornar-se cúmplice dele, pelo menos por omissão, por abandono e esta tolerância já é colaboração. Antes o ódio, a fúria, a violência, do que esta passividade diante do horror e a aceitação vergonhosa do pior.
É o que Karl Popper denomina como "o paradoxo da tolerância": “Se formos de uma tolerância absoluta, mesmo com os intolerantes e não defendermos a sociedade tolerante contra os seus assaltos, os tolerantes serão aniquilados e com eles a tolerância”.
Uma virtude não pode ocultar-se atrás de posturas condenáveis e contestáveis: aquele que só com os justos é justo, só com os generosos é generoso, só com os misericordiosos é misericordioso, não é nem justo, nem generoso e nem misericordioso. Tão pouco é tolerante aquele que o é apenas com os tolerantes. Se a tolerância é uma virtude, como creio e de um modo geral, ela vale, portanto por si mesma, inclusive para os que não a praticam. É verdade que os intolerantes não poderiam queixar-se, se fôssemos intolerantes com eles. O justo deve ser guiado "pelos princípios da justiça e não pelo fato de o injusto poder queixar-se". Assim como o tolerante, pelos princípios da tolerância.
O que deve determinar a tolerabilidade deste ou daquele indivíduo, grupo ou comportamento, não é a tolerância de que dão provas, mas o perigo efetivo que implicam: uma ação intolerante, um grupo intolerante, etc., devem ser interditos se, e só se, ameaçam efetivamente a liberdade ou, em geral, as condições de possibilidade da tolerância.
Numa República forte e estável, uma manifestação contra a democracia, contra a tolerância ou contra a liberdade não basta para a pôr em perigo: não há, portanto, motivos para a proibir e faltar com tolerância. Mas se as instituições se encontram fragilizadas, se uma guerra civil ameaça, se grupos pretendem tomar o poder, a mesma manifestação pode tornar-se um perigo: pode então vir a ser necessário proibi-la ou impedi-la, mesmo à força e seria uma falta de prudência recusar-se a considerar esta possibilidade.
Estando diante de mais um paradoxo sobre a tolerância, para entende-la entramos por um caminho não muito claro e como não poderia deixar de ser exato, Karl Popper acrescenta: “Não quero com isto dizer que seja sempre necessário impedir a expressão de teorias intolerantes. Enquanto for possível contrariá-las à força de argumentos lógicos e contê-las com a ajuda da opinião pública, seria um erro proibi-las. Mas é necessário reivindicar o direito de fazê-lo, mesmo à força, caso se torne necessário, porque pode muito bem acontecer que os defensores destas teorias se recusem a qualquer discussão lógica e respondam aos argumentos pela violência. Haveria então de considerar que, ao fazê-lo, eles se colocam fora da lei e que a incitação à intolerância é tão criminosa como, por exemplo, a incitação ao assassínio. Democracia não é fraqueza. Tolerância não é passividade”.
Moral e politicamente condenáveis, a tolerância universal não seria, nem virtuosa e nem viável. Ou por outras palavras: existe, de fato, coisas intoleráveis, mesmo para o tolerante! Moralmente condenado é o sofrimento de outrem, a injustiça, a opressão, quando poderiam ser impedidos ou combatidos por um mal menor. Politicamente é tudo o que ameaça efetivamente a liberdade, a paz ou a sobrevivência de uma sociedade.
Como vimos, o problema da tolerância só se põe em questões de opinião. Ora, o que vem a ser uma opinião senão uma crença incerta. O católico bem pode estar subjetivamente certo da verdade do catolicismo. Mas, se for intelectualmente honesto (se amar mais a verdade do que a certeza), deverá reconhecer que é incapaz de convencer um protestante, ateu ou muçulmano, mesmo cultos, inteligentes e de boa-fé. Por mais convencido que possa estar de ter razão, cada qual deve, pois, admitir que não pode prová-lo, permanecendo assim no mesmo plano que os seus adversários, tão convencidos como ele e igualmente incapazes de convencê-lo. A tolerância, como virtude, fundamenta-se na nossa fraqueza teórica, ou seja, na incapacidade de atingir o absoluto. “Devemos tolerar-nos mutuamente, porque somos todos fracos, inconseqüentes, sujeitos à variação e ao erro. Humildade e misericórdia andam juntas e levam à tolerância”.
Um outro ponto a ser considerado prende-se mais com a conduta política do que com a moral, mais com os limites do Estado do que com os do conhecimento. Ainda que tivesse acesso ao absoluto, o soberano seria incapaz de impô-lo a quem quer que fosse, porque não se pode forçar um indivíduo a pensar de maneira diferente daquela como pensa, nem a acreditar que é verdadeiro o que lhe parece falso. Pode impedir-se um indivíduo de exprimir aquilo em que acredita, mas não de pensar.
Para quem reconhece que valor e verdade constituem duas ordens diferentes, existe, pelo contrário, nesta disjunção uma razão suplementar para ser tolerante: ainda que tivéssemos acesso a uma verdade absoluta, isso não obrigaria a todos a respeitar os mesmos valores, ou a viverem da mesma maneira. A verdade impõe-se a todos, mas não impõe coisa alguma. A verdade é a mesma para todos, mas não o desejo e a vontade. Esta convergência dos desejos, das vontades e da aproximação das civilizações, não resulta de um conhecimento: é um fato da história e do desejo dessas civilizações.
Podemos perguntar, finalmente, se a palavra tolerância é, de fato, a que convém. Tolerar as opiniões dos outros não é considerá-las como inferiores ou faltosas? Temos então um outro paradoxo da tolerância, que parece invalidar tudo que vimos anteriormente. Se as liberdades de crença, de opinião, de expressão e de culto são liberdades de direito, então não precisam ser toleradas, mas simplesmente respeitadas, protegidas e celebradas.
A palavra tolerância implica muitas vezes, na nossa língua, na idéia de polidez, de piedade ou ainda de indiferença. Em rigor, não se pode tolerar senão o que se tem o direito de impedir, de condenar e de proibir. Mas acontece que este direito que não possuímos nos inspira no sentimento de possuí-lo.
Não temos razão de pensar o que pensamos? E, se temos razão, os outros não estariam errados? E como poderia a verdade aceitar - senão, de fato, por tolerância - a existência ou a continuação do erro? Por isso damos o nome de tolerância àquilo que, se fôssemos mais lúcidos, mais generosos, mais justos, deveria chamar-se de respeito, simpatia ou de amor. Se, contudo, a palavra tolerância se impôs, foi certamente porque nos sentimos muito pouco capazes de amar ou de respeitar quando se tratam dos nossos adversários.
"Enquanto não desponta o belo dia em que a tolerância se tornará amável", conclui Jankélévitch, "diremos que a tolerância, a prosaica tolerância é o que de melhor podemos fazer! A tolerância é, pois uma solução sofrível; até que os homens possam amar, ou simplesmente conhecer-se e compreender-se, podemos dar-nos por felizes por começarem a suportar-se”.
A tolerância, portanto, é um momento provisório. Que este provisório está para durar, é bem claro e, se cessasse, seria de temer que lhe sucedesse a barbárie e não o amor! É apenas um começo, mas já é algum. Sem contar que é por vezes necessário tolerar o que não queremos nem respeitar e nem amar. Existem, como vimos, coisas intoleráveis que temos de combater. Mas também coisas toleráveis que são, no entanto, desprezíveis e detestáveis. A tolerância diz tudo isto, ou pelo menos autoriza.
Assim como a simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria a dos santos, a tolerância é sabedoria e virtude para aqueles - todos nós - que não são nem uma nem outra coisa.


Opúsculo - O que é a Maçonaria
A Tolerância e a Ordem Normativa - Ir\ Luciano Ferreira Leite
Sponville, André - Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. Lisboa: Ed. Presença, 1995.

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Breve história da Loja Cavaleiros do Oriente nº 4.

Stephen John Richard Allen (*)

Meus Ir.:,

A história é parte integral da vida. Sem a presença do passado não teria o presente, e sem o presente, nunca estaremos presentes no futuro.

A “Augusta e Respeitável Loja Simbólica Cavaleiros do Oriente” foi fundada em 24 de outubro de 1932. A loja era a primeira fundada sob a potência da Grande Loja de Pernambuco (apesar seu número ‘04’), sendo fundada apenas 18 dias após da fundação da Grande Loja.
Foram os seguintes IIr.: que elaborarem o estatuto da loja, registrado no dia 06 de junho de 1933, no 1º Cartório de Registro de Títulos e Documentos da Rua Diário de Pernambuco:

Venerável Mestre, Ir.: Zeferino Agra de Lima;
1º Vigilante, Ir.: Samuel Ponce de Leon (que em 1947 foi Venerável Mestre);
2º Vigilante, Ir.: João Capistrano Bezerra;
Orador, Ir.: Abdenago Rodrigues de Araújo;
Secetário, Ir.: Luiz Aurélio de Oliveira;
Tesoureiro, Ir.: Apolinário de Azevedo;
1º Diácono, Ir.: Moysés Cícero do Rego Gomes;
2º Diácono, Ir.: José Lacerda;
Chanceler, Ir.: Edmundo Osmundo Cavalcanti;
Mestre das Cerimônias Ir.: Orlando Feijó de Melo;
Hospitaleiro, Ir.: Joaquim Luiz Rabelo e
Cobridor, Ir.: Otávio Cavalcanti de Alberquerque.

Estes nomes são importantes para todos nós, pois sem estes homens livres e de bons costumes não apenas nossa existência como uma loja não teria sido possível, e é bastante provável que nosso ingresso na Maçonaria também não teria acontecido.

A loja sempre foi cosmopolita. Ela têm uma história expressiva de IIr.: que vieram de outros orientes, como IIr.: Samuel Ponce de Leon, Salvador Moscoso, Manoel Pereira Lopes e Manoel Francisco de Campos que eram do oriente do Portugal.Ir.: Alexandra Markus de Tchecoslováquia, Ir.: Ângelo Papaleo era Italiano,
e eu, Ir.: Stephen John Richard Allen natural de York, Inglaterra. Aliás, a loja, na maioria do tempo, foi composta por mais IIr.: não naturais de Pernambuco de que IIr.: pernambucanos, mostrando a grandiosidade da maçonaria. Podemos olhar em nosso quadro agora para ver IIr.: que são naturais de Espírito Santos, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Ceará, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e São Paulo.
Durante sua história, Cavaleiros do Oriente sempre teve laços estreitos com a grande loja, participando ativamente com seus obreiros e preenchendo cargos importantes. A loja tem a honra de ter em seu quadro obreiros, citamos apenas alguns, que tiveram cargos na Grande Loja de Pernambuco:

Grão Mestre:

1946/48 - Roberto Le Coq de Oliveira;
1954/61 - Salvador Pereira d'Araújo Moscoso;
1964 - Manoel de Lima Filho

Deputado do Grão Mestre:

1949 - 1958 - Oswaldo Andrade

Gr.: Rep.: da Gr.: Lo.: de Pe.: :

1949 - Manoel Pereira Lopes com o Gr.: Or.: de Amazonas
1958 - Oswaldo Andrade com a Gran Logia Occ.: de Columbia – Cali
João Capistrano Bezerra com a Gr.: Lo.: do Est.: de Paraná

A loja teve sete endereços durante a sua longa história. O primeiro endereço da loja foi na Rua do Dique, no bairro de São José, Recife, e passou pela Rua da Aurora, 277, até 1964, quando se mudou para Rua Augusta, 699 e, mais tarde Rua 24 de Maio também no bairro de São José. Um endereço encontrado nos documentos da loja foi Avenida Dantas Barreto, 1253, registrado em 1977.

No final de 1989 a loja foi transferida para o prédio sede da Grande Loja de Pernambuco, na Rua Imperial, 197 no Bairro de São José.

Em 1995 a loja Cavaleiros do Oriente conseguiu seu templo próprio na Rua Dr. Gustavo Pinto, no bairro de Jardim São Paulo.

O prédio da oficina foi construído em 1994 através de ajuda e colaboração de homens como Ir.: Eduardo Guerra que é reconhecido como peça fundamental para a realização da obra, por sua dedicação, carinho e vontade de realizar pelo bem da ordem, Ir.: Fernando Viveiros, Ir.: Eliomar de Almeida e o Ir.: presente ativo José Simão de Góis.

Por causa das enchentes durante os anos setenta, muitos documentos foram destruídos e que contavam a história da loja Cavaleiros do Oriente. A data exata que a loja recebeu o título de ‘benemérita’ é imprecisa, porém a primeira referência do título foi encontrada numa correspondência entre a loja Cavaleiros do Oriente e a Grande Loja de Pernambuco datada dia 12 de março de 1947. No mesmo documento o título Val.: também foi citado.

O título ‘Cinqüentenária’ foi concedido pela Grande Loja de Maçônica de Pernambuco em 2005.

A loja Cavaleiros do Oriente sempre foi ativa na realização de ações sociais, não na busca de reconhecimento como uma boa colaboradora (na maioria das vezes as ações nem foram divulgadas), porém, mais importante, era contribuir na busca de resultados positivos que aquela ação merecia.

Por isto muitas ações sociais da loja não se destacaram na imprensa, na Grande Loja nem foram comentadas entre IIr.: das demais lojas em nosso Or.:.

É claro, falo do trabalho importantíssimo das cunhadas da loja, sem as quais muitas destas ações não teriam sido realizadas.

As ações eram várias, muito mais do que podiam ser colocadas aqui, mas, permitam-me citar algumas; como distribuição emergencial de colchões e roupas após as enchentes que prejudicaram o nosso Or.: de Recife durante os anos 70; recuperação de cadeiras escolares que foram redistribuídas no setor escolar público; distribuição de fraldas descartáveis para creches para mães de baixa renda e fornecimento de medicamentos para o Hospital do Câncer em Recife.

O trabalho da loja Cavaleiros do Oriente é um constante, e após 75 anos de existência de uma loja vibrante, saudável e harmoniosa, esperamos que nossos futuros IIr.: possam celebrar e saudar a loja em seu centenário aniversário.

(*) Ir.: Stephen Allen é Mestre Instalado da Loja Cavaleiros do Oriente nº 4.